Filosofia e Existência

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sábado, 1 de março de 2014

terceiro degrau (11 a 24)... No exílio

continuação do post anterior...

11) Quando vivemos um ano ou dois distantes de nossa família, e adquirimos alguma piedade, ou contrição ou continência, então pensamentos vãos nos invadem  e nos impelem a retornar à nossa pátria, "para a edificação de muitos", eles dizem, "e para exemplo e lucro de quem viu a laxidão de nossa vida pregressa". E se possuir o dom da eloquência e alguns pedaços de conhecimento, ocorre-nos o pensamento de que poderíamos ser grande salvadores de almas e ensinadores - e assim desperdiçaremos no mar aquilo que tão bem garantimos no porto. Não imitemos a mulher de Ló, mas o próprio Ló. Pois quando uma alma volta para o que deixou, como o sal, ela perde o seu sabor e doravante se torna inútil. Corramos do Egito sem olharmos para trás. Porque todos os que se voltam para ele com afeição não verão Jerusalém, a terra da tranquilidade. Aqueles que deixaram o seu povo com uma simplicidade infantil no início, e já foram completamente purificados, podem, com algum proveito, retornar à sua primeira terra com a intenção de ajudar a salvar a si mesmos e os demais. No entanto, Moisés que foi autorizado a ver o próprio Deus e foi enviado a Deus para  a salvação do seu povo, conheceu muitos perigos no Egito, ou seja, as noites escuras do mundo.

12) É melhor sentir saudades de nossos pais do que do Senhor. Por que Ele nos criou e nos salvou, mas eles frequentemente arruínam seus entes queridos, entregando-os à condenação.

13) É um exilado aquele que, tendo conhecimento, porta-se como um estrangeiro entre as pessoas de uma outra língua.

14) Não é por ódio que nos separamos das pessoas e lugares (Deus me livre!), mas apenas para evitar o dano que pode vir até nós com eles. Nisto, como em tudo mais, é Cristo quem nos ensina o que é bom para nós. Pois é claro que ele muitas vezes deixou seus parentes segundo a carne. E quando lhe foi dito: "Tua mãe e teus irmãos estão buscando por ti", o nosso bom Senhor e Mestre de uma só vez nos mostrou o desapego quando disse: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Meu Pai que está nos céus" (Mateus 12, 49).

15) Deixe ser seu pai quem deseja e é capaz de trabalhar com você a suportar o peso dos seus pecados; e sua mãe _  a contrição que pode purificá-lo da impureza; e seu irmão o companheiro que labuta e luta lado a lado com você no seu esforço em direção às alturas. Adquira uma esposa inseparável: a lembrança da morte. E deixe ser seus filhos amados os suspiros do seu coração. Faça de seu corpo seu escravo; e seus amigos os Santos Poderes (os anjos) que podem ajudá-lo na hora da sua morte, se eles se tornarem seus amigos. Esta é a geração daqueles que buscam o Senhor. (Salmo 24,6).

16) O amor a Deus apaga o amor aos nossos pais. E assim, aquele que diz que tem ambos engana a si mesmo. Ele deve ouvir Aquele que diz: "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6,24). "Eu não vim", diz o Senhor, trazer a paz sobre a terra (isto é, o amor dos pais entre os filhos e irmãos que resolveram servir-me), mas a guerra e a espada, a fim de separar os amantes de Deus dos amantes do mundo, o material do espiritual, o orgulhoso do humilde. Pois contenda e separação encantam o Senhor quando surgem de nosso amor por Ele.

17) Olhe, cuidado, para que não seja exposto à avalanche de sentimento através de seu apego às coisas de sua casa, para que não se afogue nas águas da afeição terrena. Não se comova com as lágrimas de pais ou amigos, caso contrário, ficarás chorando eternamente. Quando eles te rodeiam como abelhas, ou melhor, como vespas, e derramam lágrimas por você, não hesite por um só momento mas fixe seus olhos em sua alma, nas suas ações passadas e na sua morte, assim você poderá afastar uma tristeza com outra. Nossos, ou melhor, aqueles que não são nossos, fazem de tudo para nos lisonjear, fazendo de tudo para nos agradar. Mas seu objetivo é dificultar nosso esplêndido curso e, posteriormente, nos dobrar aos seus próprios fins.

18) Para nossa vida solitária, escolhamos lugares onde haja pouca oportunidade para conforto e ambição e mais para a humildade. Caso contrário, estaremos fugindo tendo nossas paixões como companheiras.

19) Esconda seu nobre nascimento e não se glorie de sua distinção, para que não se encontre sendo uma pessoa em palavra e outra em ação.

20) Ninguém foi ao exílio tão nobremente como aquele grande patriarca de quem foi dito: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai" (Gênesis 12, 1). E então ele foi obrigado a ir a uma terra estrangeira e bárbara.

21) Algumas vezes o Senhor trouxe mais glória ao homem que foi ao exílio, ao modo do grande patriarca. Mas se a Glória é dada por Deus, é excelente nos desviarmos de nós mesmos com o escudo da humildade.

22) Quando homens ou demônios louvam nosso exílio, como por algum grande sucesso, então pensemos nAquele que se exilou do céu na terra e veremos que, por toda eternidade, nos é impossível fazer esta troca.

23) Apego a algum parente em particular ou a alguém estranho é sempre perigoso. Pouco a pouco ele pode nos atrair novamente ao mundo e saciar completamente o fogo de nossa contrição. É impossível olhar para o céu com um olho e para a terra com outro e é igualmente impossível para alguém não expor sua alma ao perigo sem ter se separado de si totalmente, tanto no pensamento quanto no corpo, de seus próprios parentes quanto dos outros.

24) Com muito labor e esforço uma boa e firme disposição pode ser desenvolvida em nós. Mas o que se atinge com muito trabalho pode ser perdido em um instante. "As más conversações corrompem as boas maneiras". (1 Coríntios 15, 33), pois são ao mesmo tempo mundanas e desordenadas. O homem que se associa com pessoas do mundo ou se aproxima deles após sua renúncia, certamente ou cairá em suas armadilhas ou contaminará seu coração pensando nelas; ou se não está contaminado, ao condenar aqueles que estão contaminados também contaminará a si mesmo.

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