Filosofia e Existência

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A escada da divina ascensão


Traduzido da versão inglesa de
 Archimandrite Lazarus Moore (Harper & Brothers, 1959)
Um tratado ascético pelo Abba João, abade dos monges do Monte Sinai, por ele enviado pelo pai João, Abade de Raithu, a pedido de quem foi escrito. 
 Etapa 1:
A renúncia do mundo
1)   Nosso Deus e Rei é bom, ultrabom e sumamente bom (é melhor começar com Deus quando se escreve aos servos de Deus). Dos seres racionais criados por Ele e honrados com a dignidade da livre vontade, alguns são seus amigos, outros são verdadeiros servos, alguns são inúteis, alguns são completamente estranhos a Deus e outros, a despeito de serem criaturas falíveis são igualmente Seus oponentes. Por amigos de Deus, querido e santo Pai, nós, pessoas simples, queremos dizer, os seres intelectuais e incorpóreos que rodeiam a Deus. Por verdadeiros servos de Deus queremos dizer todos aqueles que de forma incansável e incessantemente fazem e tem feito a Sua vontade. Por servos inúteis queremos dizer aqueles que pensam de si mesmos como lhes tendo sido concedido o batismo, mas que não possuem fé suficiente para manter os votos que fizeram a Deus. Por estranhos a Deus e dEle alienados, queremos dizer os ateus e hereges. Finalmente, os inimigos de Deus são aqueles que não apenas rejeitaram e escaparam dos mandamentos do próprio Senhor, mas também empreendem guerras contra aqueles que estão cumprindo isso.
2)    Cada uma das classes acima poderia bem ter um tratado dedicado a elas. Mas para um povo simples como nós não seria de nenhum proveito entrar em tais investigações profundas.  Venham então, em inquestionável obediência, dar as mãos aos verdadeiros servos de Deus que devotamente nos compelem e em sua fé nos constrangem aos seus comandos. Vamos assim escrever este tratado com a caneta tirada de seu conhecimento e mergulhada na tinta da humildade, que é ao mesmo tempo subjugada e radiante. Então vamos aplicá-lo ao papel branco de seus corações, ou melhor, colocaremos nas tábuas do espírito, e inscreveremos as palavras divinas (ou melhor, semear as sementes). Começaremos assim.
3)   A Deus pertencem todos os seres livres. Ele é a vida de todos, dos justos e injustos, pios e ímpios, apaixonados e desapegados, monges e seculares, sábios e simples, saudáveis e doentes, jovens e velhos, assim como os raios de luz, o sol, as mudanças do clima são para todos iguais, “pois não há acepção de pessoas em Deus” (Romanos 2, 2).
4)   O homem irreligioso é um ser mortal com natureza racional que por sua livre vontade volta suas costas à vida e pensa seu próprio Criador, o sempre existente, como não existente. O homem sem lei é aquele que detém a lei de Deus à sua maneira depravada e pensa em combinar a fé em Deus com a heresia que é diretamente oposta a Ele. O cristão é aquele que imita Cristo em pensamento, palavra e ação, na medida que isso é possível aos seres humanos, acreditando com razão e sem culpa na Santíssima Trindade. O amante de Deus é aquele que vive em comunhão com tudo o que é natural e sem pecado e na medida em que é capaz não negligencia nada que seja bom. O homem continente é aquele que no meio de tentações, armadilhas e tumulto, luta com todas as suas forças para imitar as formas dAquele que está livre de tais coisas. O monge é aquele que no interior de seu corpo terreno e sujo se esforça para atingir o estado e disposição dos seres incorpóreos. Um monge é aquele que controla estritamente sua natureza e policia incessantemente seus sentidos. Um monge é aquele que mantém seu corpo na castidade, sua boca pura e sua mente iluminada. Um monge é uma alma em luto que seja na vigília seja no sono tem diante de si a lembrança da morte. Retirado do mundo tem um ódio voluntário às coisas vãs materiais e negando a natureza buscam superar a natureza.

5) Todos os que deixaram de boa vontade as coisas do mundo, certamente o fizeram por amor ao Reino Futuro, ou por causa da multidão de seus pecados, ou por amor a Deus. Se não forem motivados por alguma destas razões, sua retirada não é razoável. Mas Deus que define nossas lutas aguarda para ver qual será o fim de nosso curso.
6) O homem que se retirou do mundo para se livrar do fardo de seus pecados, deve imitar aqueles que se estabeleceram fora da cidade entre as tumbas, e não deve interromper o manancial ardente de lágrimas e gemidos sinceros sem voz até que ele também veja Jesus rolar a pedra da dureza de seu coração e libertar Lázaro, ou seja, nossa mente, das faixas do pecado e ordenar seus anjos atendentes para que o livre de suas paixões e o deixe ir para o abençoado desapego. Caso contrário seu ganho não terá sido nada.
7) Aqueles que desejam sair do Egito e fugir do Faraó certamente precisam de algum Moisés como mediador para comunicar-se com Deus, o qual entre a ação e a contemplação, pondo-se de pé, levante as mãos em oração a nós por Deus, para que guiado por Ele possamos cruzar o mar do pecado e derrotar o Amaleque das paixões. Aqueles que se entregam a Deus enganam a si mesmos se supõem que não precisam de um diretor. Aqueles que saíram do Egito tinham Moisés como seu guia e os que fugiram de Sodoma tinham um anjo. Os primeiros são aqueles que foram curados das paixões da alma pelo cuidado dos médicos: são estes que fugiram do Egito. Os últimos são aqueles que por muito tempo adiaram limpar as impurezas de seu corpo miserável. É por isso que precisam de um ajudante, um anjo, por assim dizer, ou pelo menos alguém que viva como anjo. Pois em proporção à corrupção de nossas chagas necessitamos de um diretor que seja, ao mesmo tempo, um perito e um médico. 


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